Teoria da sandalia havaiana




Na tela da minha mente se estendia uma tarde preguiçosa.  A cerveja, mesmo não sendo espumante, fazia bolhinhas na minha cabeça e espantava todo e qualquer pensamento. O barulho das ondas quebrando na areia da praia fazia o som de fundo para uma perfeita meditação a beira mar. Os barquinhos dos pescadores balançavam de um lado para outro conforme a brisa, e àquela altura, só eles e o barulho das ondas importava. Alguns filósofos chamam essa sensação de profunda paz e vazio de   ¨sentimento oceânico ¨.  E era o que eu estava experimentando aquela tarde.
Nessa ¨viber¨ eu comecei a caminhar de volta para casa pela beira da praia, deixando as pequenas ondas molharem meus pés e minha companheira dos momentos descontraídos, a sandália havaiana. Quando de repente percebi que aquela companheira tinha se deixado partir por uma ondinha de nada. Para minha surpresa, sua tira se partiu perdendo totalmente a função. Estarrecida, não me restou outra alternativa a não ser andar pelas ruas de Bombinhas até a pousada, com um pé descalço, saltitando nas pedras e no asfalto causticantes. Enquanto andava procurava me lembrar há quanto tempo eu tinha aquela havaiana. Afinal, uma verdadeira havaiana não se parte à toa!
Voltei 1 ano atrás e me vi saindo da banheira e calçando as havaianas na casa da minha filha no Canadá. Voltei 2 anos atrás, lembrei da viagem à Índia e me vi andando com ela pelas ruas calorentas de Rishikesh. Voltei 5 anos atrás e me lembrei do grosso carpete no hotel em Viena, e eu calçando as mesmas havaianas. Voltei 7 anos atrás e lembrei dos passeios nos parques em Brasília. Voltava e voltava e não conseguia me lembrar. Afinal, desde quando tenho aquela havaiana? Até que me lembrei de um Natal, e da minha tia Cida me presenteando com aquela sandália  de tiras douradas. Isso foi há mais de 10 anos!
Como uma pessoa pode ter uma sandália havaiana por 10 anos eu não sei. Mas naquela tarde na praia entendi perfeitamente que as coisas precisam ser renovadas! Senão podem te deixar na mão qualquer hora. Carros, trabalho, casa, roupas e mesmo pessoas tem prazo de validade. Por outro lado, se não fosse minha velha sandália havaiana, não teria pensado nisso, e nem estaria escrevendo agora sobre isso.

 Então chego a uma simples conclusão: todas as coisas e as pessoas precisam ser renovadas, mas vamos conhecer, amar e experimentá-las ao máximo, entendendo que elas estão com a gente por um tempo, mas não são nossas. Qualquer hora podem soltar as tiras e serem levadas por uma onda qualquer. Mas ninguém sabe qual é esse prazo de validade, e se um dia você ficar na mão, let it be! Vai ser uma oportunidade para aprender. Muito mais do que simplesmente se descartá-las no primeiro sinal de velhice.

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