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Mostrando postagens de fevereiro, 2016

10-"Morre o ex-Conselheiro Jose Luiz Baccarini"

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Meu pai adorava essa figura, essa   charge   feita por um amigo, e é com ela que eu finalizo estas publicações. José Luiz Baccarini, advogado, com uma cabeça enorme e um rosto tranquilo; um bandido de uniforme listrado sentado num banquinho ao fundo, com um guarda ao lado. E o advogado defendendo o acusado. Era essa a ideia que ele fazia do direito, a defesa do acusado, do mais pobre, do mais fraco. Muitas vezes do sabidamente culpado por algum delito grave. Meu pai via o ser humano como alguém que intrinsecamente errava, as vezes muito, mas que sempre devia ter uma segunda chance, sempre devia ser perdoado. Talvez porque ele também se sentisse no direito de ser sempre perdoado, e foi, na maior parte das vezes. Para nós, seus filhos, essa   charge   significou sempre muita coisa. Era o lado dele que nós podíamos ver. Enquanto o outro lado sempre foi um mistério. Pelo menos até o momento em que nós crescemos, ficamos adultos, tivemos

9-A caminho do Tribunal de Contas de Minas

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                      Para meu pai, o Tribunal de Contas era o desfecho de ouro da sua vida pública. E ele conseguiu o que queria. Foi muito querido dentro da casa, por seus funcionários e pelos colegas conselheiros. Ele era carismático. Um homem de aparência simples por natureza, sem muitas vaidades.  Uma pessoa que conversava igualmente com faxineiros e presidentes. Mas se orgulhava da sua carreira política, e mais ainda de ser conselheiro e presidente do Tribunal de Contas do seu estado. Aqui ele conta como aconteceu. Galeria do Tribunal de Contas de Minas Gerais

8-A amada terra natal, São João del Rei

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Meu pai foi de uma geração em que valores como amizades pessoais, palavra e terra natal foram praticados na sua essência. Uma época em que as pessoas viajavam pouco para fora do seu país, em que os amigos não eram virtuais, mas se apertavam as mãos e se olhavam nos olhos, numa época em que a palavra de um homem era honrada.  Ele amava São João del-Rei, amava seus eleitores, amava sentar no Ítalo e tomar   capeletti   com a mesa cheia de amigos, regado a muita cerveja.  Seus esforços na Assembleia Legislativa e na Câmara dos Deputados iam sempre em prol da sua cidade e da sua região. Sem alarde, sem esperar agradecimentos, ele fez muito por sua cidade. E antes de terminar sua carreira política plantou a semente do que hoje é a Universidade Federal de São João del Rei. 

7-A morte de Tancredo Neves e o destino de Itamar Franco

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Uma grande decepção para meu pai foi a morte do seu mentor e líder, Tancredo Neves. Perdeu um grande amigo e por muito pouco ele deixou de ter acesso garantido ao presidente da república. Mas meu pai nunca se deixava abater. Ele tinha uma visão positiva da vida, e nisso se incluía a política. Quando Tancredo, morreu, em 1985, ele era deputado federal, já perto de deixar a política para se tornar conselheiro do Tribunal de Contas de Minas Gerais. A morte de Tancredo, e como o predestinado senador Itamar Franco chegou a presidente da república, é o que ele conta em seguida.

6-Meu pai e Tancredo Neves

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  Amigos, quase parentes. Era assim o relacionamento da nossa família com a família Neves. Continua sendo. Mas naquela época Chico Neves, irmão de Tancredo, era o grande amigo do meu pai em São João del Rei. Era para quem ele confidenciava tudo, o de bom, e o não tão bom. Aquelas nossas mazelas pessoais que só confiamos a um grande amigo, quando temos um. Foram leais amigos até o final da vida. E Tancredo era o grande mentor, e também um leal amigo. Cada “dobradinha” que faziam nas chapas eleitorais sempre foi um sucesso de votos. E foram tantos os casos que meu pai contava sobre Tancredo Neves, que para nós era como se ele fosse alguém da família também. E foi sobre Tancredo que ele mais escreveu. Era ele que meu pai mais admirava como político e como pessoa. E sua morte súbita foi um choque para meu pai, que ele procurou disfarçar de nós, como sempre fazia. Aí estão seus escritos sobre esse grande político, e que tinha também muita sorte, como ele conta.

5-Mestres da política

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Meu pai viveu numa época de grandes políticos, e ele se orgulhava disso. De cada um deles guardou na memória passagens engraçadas ou pequenas amostras de como fazer política, a arte da retórica e da persuasão.  Benedito Valadares, Ulisses Guimarães, Augusto Viegas, Juscelino Kubitschek, Tancredo Neves, Itamar Franco, e outros. De todos, Tancredo Neves foi o grande mentor e amigo, o companheiro de chapas eleitorais em São João del Rei. Para a política meu pai sempre doou o que tinha de melhor: seu tempo, sua inteligência, seu bom humor e disponibilidade total.  Com a política ele pode ajudar muitas pessoas, comunidades e cidades. Esse foi o nosso consolo, da família, que acabou sempre ficando em um segundo plano. Mas aqui estão algumas dessas passagens.

4-Nos tempos da ditadura

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                A partir de 1964, com o golpe militar, uma sensação de perigo rondava nossa casa. Escutávamos as conversas dos adultos sem entender muito bem. Mas eu sabia que meu pai corria perigo. Meu avô, ateu e comunista assumido, precisou se mudar às pressas de Niterói para São João del Rei, depois de queimar muitos livros que tinha em casa. Nós éramos crianças e sentíamos que alguma coisa terrível estava acontecendo, para meu avô queimar seus queridos livros... O ambiente era tenso, minha mãe estava preocupada, mas meu pai permanecia tranquilo, e com muito bom humor foi fazendo sua política “pelas beiradas”, como bom mineiro que era. Conseguiu não ter seu mandato de deputado estadual cassado, naqueles anos de treva. Mas alguns dos seus grandes amigos não tiveram a mesma sorte. Isso é o que ele conta nas próximas páginas.                  Meus pais e a primeira neta.                           Em Niterói, meu pai e meu avô. Conversas, cerveja e muito sono..

3- Política, amizades e dinheiro.

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Política, amizades e dinheiro. Meu pai foi mestre nas duas primeiras e um desastre completo na última.  Sentado nas cozinhas das casas humildes de seus eleitores, ele tomava café, bebia o que lhe ofereciam e conversava. Sem pressa. Sem opiniões pré-formadas. Ele escutava o que quisessem falar. Numa época em que as coisas não eram ainda tão instantâneas e descartáveis como hoje.  Fez grandes amigos fazendo política. Colegas, pessoas comuns, gente importante. Não fazia muita distinção. Em volta de uma mesa eram todos iguais. Já o dinheiro não era tão simples. Naqueles tempos, 1970, 80, era bem mais difícil enriquecer com política, diferentemente de hoje. E todo o dinheiro que ganhava parece que escorria por suas mãos! Vendia o que tinha para investir nas campanhas. Morou quase a vida toda em um apartamento alugado. Nunca nos faltou nada, mas não deixou um tostão. Mas deixou nos seus escritos uma amostra de como lidava com esse “triangulo das bermudas”.

2- O começo da vida profissional- o advogado

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                            Se eu não fosse médica, gostaria de ser advogada! Adoro filmes de júri, me vejo andando para lá e para cá na frente dos jurados e do juiz, argumentando brilhantemente, vencendo as causas mais improváveis! Meu pai foi um bom advogado. Ele tinha carisma e muita esperteza, mas acima de tudo, compaixão. Certa vez fui a um júri, um importante julgamento de um crime na cidade. Eu, menina, fascinada! Mas como meu pai podia defender aquele homem? Tão parecido com os bandidos dos livrinhos de bolso de faroeste que eu adorava ler? Ele venceu, mas antes do veredito minha mãe me tirou do tribunal improvisado no clube da cidade, acho que com medo que eu acabasse seguindo o direito, e consequentemente, na cabeça dela, a política. Mas vou deixar que meu pai, José Luiz, ou Zezé como os amigos o chamavam, explique como costumava ganhar suas causas...  

1-Os escritos do meu pai

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Meu pai deixou alguns escritos. Contraditórios, desorganizados, simples. Como ele mesmo. Sem um bom começo, sem um roteiro, sem um final explosivo. O que ele queria? Transformar aquelas poucas páginas em um livro. Ele escreveu cada uma entre 2006 e 2011, ano da sua morte. Em cada página deixou sua assinatura a caneta.  Em cada página deixou um pouco da sua vida como homem político que era.  O principal. Aquilo que escrevemos quando temos mais de 80 anos. Nada de mágoas, nada de grandes acontecimentos, nenhuma das emoções extremas pelas quais passamos. Apenas o simples, lembranças de pessoas, de diálogos, de momentos. De repente chegou a hora. Esse blog foi criado para dar espaço a ideias, lembranças e pensamentos. Serão dele as primeiras lembranças. Não, não vou publicá-las em um livro, como ele queria. Mas vou disponibiliza-las, para quem quiser lê-las. Para quem conseguiu navegar pelo mar de vaidade, de orgulho, de opiniões, e principalmente de “lindos   selfs ” em q