1-Os escritos do meu pai
De repente chegou a hora. Esse blog foi criado para dar espaço a ideias, lembranças e pensamentos. Serão dele as primeiras lembranças. Não, não vou publicá-las em um livro, como ele queria. Mas vou disponibiliza-las, para quem quiser lê-las. Para quem conseguiu navegar pelo mar de vaidade, de orgulho, de opiniões, e principalmente de “lindos selfs” em que tem se transformado nossa vida pós-moderna, e mesmo assim se sente pequeno o suficiente para aprender com um homem normal. Ou seja, um homem contraditório em sua essência. Que amou muito, embora não fosse dado a atos de amor. Honesto e sincero consigo mesmo, mas nem sempre o suficientemente honesto ou sincero para com os outros. Responsável boêmio, perigoso, mas sempre leal amigo, admirado inimigo, pai distante, marido amoroso e infiel, amado avô.
Vou deixar que meu pai fale por si mesmo, que mostre um pouco dele e, por tabela, de mim mesma, sua filha mais velha. Herdeira de muitas de suas virtudes e defeitos. Mas antes preciso pedir perdão. Perdão meu pai, por tantos julgamentos, por tantas críticas, tantas mágoas nossas, dos seus quatro filhos. No final vocês se foram, e estamos aqui, nós, nossos filhos e netos, por sua causa e de nossa mãe. E na vida além dessa, em que sei que vivem agora, todos os descaminhos, todos os pecados e todos os mal feitos são imediatamente perdoados, porque foram só ferramentas. São tentativas, são como puderam fazer, como aprenderam ou como suportaram, na tentativa de suavizar essa linda e longa estrada, cheia de perigos, cheia de buracos e desvios que é a Vida. Podemos até tentar fazer melhor, mas sempre do jeito de cada um. Sempre errando aqui e acertando ali. Como perfeitos seres humanos imperfeitos que somos.
Quero agradecer a minha amiga, Sra. Aposentadoria, que me permite agora ter tempo para o mais importante. Tempo para ler os escritos de meu pai, tempo para escrever, para ler, tempo para estar com as pessoas que amo, para curtir meus filhos e netos, para brincar, para dormir até mais tarde. Tempo para viajar ou para não fazer nada. Tempo para me preparar para um outro tempo. Tempo para entender quanto é precioso o próprio Tempo. Não tenho mais tempo a perder com bobagens, com preocupações, com regras, com roupas, com conversas superficiais.
Vamos então onde tudo começou, onde meu pai começou a escrever. Onde ele resolveu deixar um pouco da sua vida para seus amigos, família e descendentes. Resolvi publicar aos poucos, cada uma das passagens. Não porque sejam tão profundas a ponto de fazer o leitor precisar pensar ou refletir. Mas porque cada vez que eu postar uma ou duas páginas, vai ser uma oportunidade de ele lembrar e ser lembrado. Porque eu sei que ele também está se preparando para outro salto, outra grande aventura. E, quem sabe lembrar a passada, seja uma forma de não cometermos os mesmos erros, de não nos perdermos nos mesmos labirintos.
Voilà!
Rachel
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