“A vacina é minha!”- porque o ser humano precisa guerrear
Em todo o mundo, são 166 candidatas a vacina contra Covid. O Brasil está participando no desenvolvimento de cinco delas, que estão na fase 3 dos testes. Nesta fase é desenvolvido um ensaio em larga escala (com milhares de indivíduos) que precisa fornecer uma avaliação definitiva da sua eficácia e segurança em maiores populações. Apenas depois dessa fase é que se pode fazer um registro sanitário. As vacinas em teste no Brasil são a da Universidade de Oxford, duas chinesas (Sinovac e Sinopharm), Moderna (americana) e da BionTec/ Pfiser(alemã e americana). A vacina russa também está em vias de iniciar testes no Brasil, após aprovação da ANVISA.
No início da epidemia, as pessoas apostavam na solidariedade mundial e pensavam que um esforço científico conjunto e organizado seria a melhor resposta para a criação de uma vacina eficaz e segura, no menor tempo possível. Essa expectativa não se concretizou.
A busca pela vacina transformou-se em uma corrida nacionalista que remete à guerra fria da década de 60. As grandes potências, principalmente Estados Unidos, Rússia e China competem desesperadamente umas com as outras, num “vale tudo” para serem as primeiras. No caso da vacina russa, seu nome é Sputnik V, nome do primeiro satélite orbitário, lançado pela Rússia em 1957, que iniciou a corrida espacial. Nada mais nacionalista e exibicionista.
Por que o ser humano precisa guerrear e competir constantemente?
Se olharmos para trás no tempo, apesar de todos os conflitos bélicos e atentados terroristas das últimas décadas, os cientistas são unanimes em afirmar que a sociedade hoje é mais refratária à guerra armada e comete menos atrocidades que em outros períodos da história como as Investidas Mongóis, as guerras na Ásia no século VIII, as guerras do século XlX e do início do século XX.
Mas nem por isso o ser humano abre mão de outros tipos de guerras mais sofisticadas, que tendem a causar menos mortandade e preservar os bens materiais nacionais, mas continuam causando sofrimentos aos indivíduos e ao meio ambiente. As guerras tecnológicas e comerciais são as estrelas da vez. Da mesma forma que na época dos grandes impérios, as nações persistem no objetivo egoísta e nada visionário de se sobrepor às demais. Seja buscando o lucro acima do bem-estar social nas relações comerciais, seja explorando impiedosamente o meio ambiente desconsiderando o bem-estar físico dos próprios cidadãos, seja priorizando o embate e competição na corrida pela vacina contra o Covid.
Onde se situa os países como o Brasil nessa disputa? Quem ficará para o final da fila? Os países mais ricos vão ser beneficiados nesse jogo?
Perguntas ainda sem respostas. O fato do nosso país estar participando de alguns estudos, mesmo assegurada a transferência de tecnologia, não necessariamente indica que poderemos implementar a vacinação a curto prazo para a maioria da população. Somos mais de 200 milhões de habitantes e, além das doses propriamente ditas, há insumos como seringas, agulhas e cadeias de refrigeração a serem adquiridos e distribuídos para um país de dimensões continentais.
E não basta pensarmos só em nós mesmos. Segundo Mariângela Simão, diretora para acesso a medicamentos e vacinas da OMS, essa é uma epidemia para a qual não existem soluções nacionais. “As soluções têm que ser globais. Se algum país estiver com um surto de Covid, seu país não estará protegido mesmo que a maioria da população tenha sido vacinada”.
Portanto, precisamos ter paciência e nos acostumarmos a conviver com as medidas de prevenção. Porque a vacina, quando ela chegar, vai ajudar bastante, mas não vai ser a solução para todos nossos problemas frente ao Covid.
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