A Vida Real 1ªparte- Figueira



Era uma noite cheia de estrelas aquela da minha chegada a Figueira. Eu saí do carro no caminho de terra e fui até a beira da colina coberta por árvores nativas e mato. Por uma abertura na vegetação, que formava uma moldura natural, me deparei com o céu mais bonito que vi em toda minha vida. Sem a lua, ele estava totalmente salpicado de estrelas de vários tamanhos, que pareciam piscar em harmonia com os sons dos bichos noturnos e vagalumes. A sensação de Algo mais profundo, que transbordava da natureza e de dentro de mim, era quase palpável. Aquela cena e aquela sensação ficaram gravadas para sempre na minha mente, e outras tantas que viriam daquele lugar muito especial, Figueira, ao qual eu devo muito da minha vida e de quem eu sou hoje.

Em 1999, Figueira já estava há uma década materializada ali, vizinha a uma cidade no sul de Minas, concebida e liderada por Trigueirinho e um grupo de buscadores e com o apoio do 7º Raio, de Saint Germain, o Raio da Chama Violeta, que promove a união do espírito com a matéria e a transmutação. É o Raio da disciplina, da ordem e do ritmo, exatamente o que transbordava em cada detalhe de Figueira em 1999. (Os Raios da Grande Fraternidade Branca são frequências vibratórias do Todo, cada um deles manifesta um atributo daquilo que chamamos de  Deus.)

Alojamento de F2
Em três fazendas foram construídos alojamentos para o grupo e os visitantes, como eu. Foram plantados vários tipos de árvores, muitas frutíferas,  grandes plantações de feijão e outros grãos, e construídos lugares muito especiais para alojamento, meditação, vigílias e orações. Animais domésticos são acolhidos e tratados nas fazendas. A população da cidade, os moradores fixos de Figueira e os visitantes são assistidos por um grupo de médicos voluntários engajados na vida em comunidade. Todos trabalham em Figueira e mesmo os visitantes de fim de semana se entregam ao serviço, o sacro ofício, em prol da comunidade e da natureza. A comida, integral e vegetariana, tem a vibração do amor e da solidariedade. Os espaços, salas, banheiros, dormitórios, lavanderias, cozinhas tem o cheiro de limpeza e de cuidado. As árvores frutíferas transbordam de vida e generosidade, os animais parecem humanos e a vida em comunidade transcorre cheia de beleza, harmonia e devoção. 

Sohin
Trigueirinho é o mentor, o escritor de vários livros que falam sobre extraterrestres e sua presença entre nós, colaborando para a evolução da raça humana na Terra. É ele quem agrega o grupo e quem transmite as mensagens de outras dimensões em reuniões semanais, as partilhas.  Mas a energia desses nossos irmãos mais evoluídos pode ser sentida em cada canto de Figueira, seja na natureza, seja nos espaços construídos pelo homem.

Labirinto de F2
Nas minhas primeiras idas a Figueira fui encaminhada a vários tipos de atividades diferentes: colher feijão, ajudar no preparo das refeições, limpar banheiros, organizar fichas de livros, limpar os cipós de árvores e os troncos de eucaliptos, cuidar dos jardins de plantas medicinais e muitas outras. Para todas elas eu me entregava totalmente.  Aprendi bastante sobre minha própria vida e a vida em comunidade e me curei de traumas, ressentimentos, raiva, dúvidas e outras espécies de “lixos” que vão nos envolvendo a medida que atravessamos os nossos anos nesse planeta. Dedicando às tarefas, eu percebia a importância de se estar totalmente presente em cada coisa que se faz e tornar tudo um ato de amor. Todas elas pareciam infindáveis, eu estava continuando o serviço de alguém e outro continuaria o meu, portanto terminar não era o objetivo.  Fazer bem feito, sim. As que mais me tocavam eram as tarefas com as árvores. Muito cansada, depois de uma manhã inteira limpando os troncos dos grandes eucaliptos do labirinto de F2, uma das fazendas, eu deitava na cama do dormitório e dormia um sono totalmente reparador, e que selava o trabalho energético que as Hierarquias iam ao mesmo tempo fazendo em todos os meus corpos. Os banhos nos lagos de Figueira terminavam a limpeza energética, e depois de três ou quatro dias naquele lugar muito especial era sempre difícil voltar para a cidade grande, onde tudo me parecia feio, triste e sem vida.
Depois de alguns anos frequentando Figueira  eu comecei a trabalhar com a equipe de meus colegas médicos, atendendo a quem precisava, com acupuntura, alopatia e fitoterápicos. 

Todos foram momentos muito marcantes, muitas pessoas que encontrei ali foram presentes especiais, muitos cheiros são inesquecíveis, muita intuição aflorou naquela época e nos anos seguintes. Coisas difíceis de serem descritas em palavras, talvez mais fácil de serem percebidas no íntimo de cada um. Entre tantos momentos, me lembro de um quando estava sentada no banco de um dos ônibus que fazem o trajeto entre as fazendas e que levam os moradores da comunidade. Era manhã bem cedo, eu olhava pela janela do ônibus que ia pela estrada de terra e uma certeza me veio no pensamento e no coração. A de que só Deus é real. “ Nele nós nos movemos, vivemos e existimos.” Acreditar só em Deus, e nada mais, porque tudo o mais é ilusão e porque Ele abrange o universo manifestado e o não manifestado na matéria, os seres humanos, a natureza, os animais, as galáxias e o éter. Tudo é uma coisa só, assim como o gelo, o vapor  e a água são uma coisa só, água!

O budismo tibetano afirma que o maior problema do ser humano é a “heresia da separatividade”.  Em  determinado ponto no Tempo, começamos a nos ver separados uns dos outros, da natureza e de Deus. O homem voltou-se para si mesmo, para suas coisas, para sua tribo e assim surgiu a fonte de todos os males e de todo sofrimento no mundo de hoje, o egoísmo.  O homem deslumbrou-se com o que percebia através dos seus cinco sentidos e mergulhou no esquecimento da sua origem.  Como um ator encenando uma peça, que se perde no personagem, esquecendo que ali tudo é teatro, e que a verdadeira vida acontece quando as cortinas se fecham, nós nos envolvemos tanto com essa vida desde o momento em que respiramos pela primeira vez e esquecemos a Vida Real, que acontece num Tempo Real, num tempo onde todos nós sabemos quem somos, de onde viemos e para onde vamos. Até o momento em que respiramos pela última vez e então,  se fomos bons  atores, e vivemos com verdade,  e consciência os nossos personagens, fazemos nosso caminho de volta para casa.

Mas Figueira, apesar de ter sido um dos mais importantes  momentos  da minha vida, não foi o primeiro. Muitos caminhos eu tive que percorrer antes de chegar ali. Desde a minha infância e adolescência eu procurava respostas para questões que me tiravam o sono e me fizeram ir em busca de alguma coisa a mais, de alguma coisa que eu sentia existir por trás da “realidade” que me era apresentada, e que nunca me foi suficiente.


Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Espinheira Santa

“Histórias quase, quase, quase, quase comuns.” - Resenha

"Existe vida antes do primeiro livro" - Resenha