Vida Real- 2ª parte- As primeiras descobertas


Uma das minhas lembranças mais remotas é de certo dia, eu muito pequena, devia ter uns três anos, estava com febre alta que não cedia com medicamentos. Meus pais chamaram o pediatra, um grande amigo da família. Eu me lembro, perfeitamente, do momento em que, quando todos estavam na cabeceira da minha cama conversando sobre mim, eu tive minha primeira experiência mística. Eu vi Nossa Senhora das Graças, luminosa, envolta em uma luz azul, com uma coroa de estrelas, pairando sobre minha cama. Ela me pareceu muito real, se movia no ar, carregada de amor e de proteção, e seus olhos na minha direção me diziam que tudo ir ficar bem.

Sim, pode ter sido uma alucinação de uma criança com febre, mas para mim foi muito real e eu fiquei vários dias pensando naquilo sem entender o que havia acontecido e sem coragem de contar para ninguem. Eu cresci numa família católica, frequentei colégio de freiras a partir dos seis anos, morava na frente de uma linda igreja em São João del Rei, onde eu e meus amigos brincávamos todas as tardes depois da escola. Meu primeiro contato foi com o catolicismo, as missas, as freiras. Em várias ocasiões eu tive sensações, ou melhor, “contatos transcendentais”. Não via com os olhos físicos, mas com os olhos da alma. Dessa forma, Jesus Cristo e Maria desde muito cedo se transformaram em amigos e protetores.

À medida que fui chegando à adolescência o catolicismo não foi mais suficiente, não me dava todas as respostas, não preenchia minha alma que buscava sempre algo mais. Foi quando comecei a ter contato com livros de filosofia e espiritualistas e com os Lamas do Tibete. Aos 17 anos eu lia teosofia, filosofia indiana, Herman Hesse, Krishnamurti, budismo e, principalmente, Lobsang Rampa, um monge tibetano que me descortinou possibilidades nunca antes imaginadas, como a capacidade de sair do corpo físico para uma Viagem Astral. Nessa época, eu deitava no chão da sala de casa quando estava sozinha e exercitava relaxamentos, orientados por áudios em fita cassete, para fazer a tal “viagem astral”, sem sucesso. Até que, já na faculdade de medicina, determinado dia em um cochilo no sofá da nossa casa, eu me vi atravessando o teto do apartamento conscientemente e fiz minha primeira, e única viagem astral.
India,no Ganges em Rishikesh, 2014

Minha adolescência foi a fase inicial dessa busca, que desde o princípio sempre foi muito pouco ortodoxa. Comecei a ler sobre extraterrestres e consciências interplanetárias, seres de outra dimensão que já haviam passado por essa Terra ou não, e que permanecem conosco para ajudar a evolução do ser humano. Aprendi a meditar e comecei a frequentar aulas de Yoga, o que se tornou um hábito para toda minha vida. Com a ajuda de um tio querido, Joel, que me emprestava e me dava livros de todos os tipos, eu fui entrando num outro mundo. Um mundo que fazia mais sentido e que me parecia mais real. Para onde eu podia ir durante as meditações e as leituras e que me colocava mais perto de mim mesma e do que, quando criança, aprendi a chamar de Deus. Um Deus que começou a ser muito grande para ter um nome ou para ser definido de alguma forma. Com o tempo, fui percebendo que o que eu buscava, não estava nos fenômenos seja eles quais fossem como viagens astrais ou contatos extraterrestres. O que eu buscava estava em algum espaço de difícil acesso dentro de mim mesma.

Minha principal questão naquele tempo era: como eu posso chegar mais perto desse Deus? como encontrar esse " espaço"?  E essa continuou sendo a busca de uma vida inteira. São vários os caminhos possíveis, mas para mim, o mais natural sempre foi o Yoga: o caminho da disciplina física e mental, da persistência nos objetivos e da ação sem apego aos resultados. Minha íntima relação espontânea com o oriente, com a Índia e o Tibete, com o budismo e com o Yoga superaram na prática a tradição familiar judaico-cristã. Mas nenhuma possibilidade ou caminho foram deixados de lado ou abandonados nessa busca. Eu sabia que minhas chances de responder a pergunta inicial nunca estariam guardadas num só lugar, numa só religião. E que, no fundo, todas elas tinham a mesma essência e a mesma resposta.

E assim, passei por todas as fases da minha vida tendo essa necessidade de proximidade com Deus como o centro de tudo. É o que me orienta e o que define minhas decisões e escolhas. É o que me define como pessoa. Fui percebendo que esse contato mais íntimo com Ele, pelo menos aqui nessa Terra em que nós todos vivemos, nunca é muito duradouro, mas se constitui de momentos e  lapsos de tempo. Algumas vezes estive bem perto,  momentos em que me encontrei realmente na Sua presença sem nenhuma barreira física ou mental. Algumas vezes em ocasiões especiais como a viagem à Índia, Caminho de Santiago, Figueira. Outras vezes durante uma grande dor. Outras vezes durante a meditação ou ao atender um homem inconsciente, na rua. Esse último foi, sem dúvida, meu mais profundo contato. Um momento fugaz, arrebatador e verdadeiro, capaz de valer por toda uma vida.


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