Vida Real- 3ª parte- O caminho sagrado do Yoga

Principe Arjuna estava parado em sua carruagem levada por quatro cavalos brancos,  no meio do campo de batalha, entre os dois exércitos. De um lado os Pandavas, seus irmãos, e do outro lado outro ramo da sua família, os filhos de Dhritarashtra, seu tio. Ele hesitava ao ver seus primos, tios e avós, e se perguntava como poderia iniciar uma batalha contra eles, e matar os de seu próprio sangue. Krishna é seu amigo e condutor da  carruagem e Arjuna angustiado, lhe pergunta:
- “Krishna, que ouves as preces de todos os homens, dize-me como podemos esperar sermos felizes assassinando os filhos de Dhritarashtra.  Maus eles podem ser, mas se os matarmos nosso pecado será maior, derramar o sangue que nos une. Onde está a alegria na matança de parentes?”
- “Tuas palavras são sábias, Arjuna, mas tua tristeza não serve de nada. O verdadeiro sábio não lamenta pelos vivos, nem pelos mortos. Nunca houve um tempo em que Eu não existisse, nem tu ou nenhum desses reis. Assim como o morador desse corpo passa pela infância, juventude e velhice, assim na morte ele simplesmente passa para outra espécie de vida. Um espírito sereno aceita prazer e dor com igualdade de mente.  Dizem que os corpos morrem, mas o Atma -  Aquele que possui o corpo-  é eterno, não pode ser destruído. Portanto, tu deves lutar. Aquele que habita dentro de todos os corpos vivos, permanece para sempre indestrutível. 
Krishna continua: - “Esta é a natureza de Atma. Agora ouve o que é Karma-Yoga: Executa cada ação com o coração fixo no Senhor Supremo. Renuncia ao apego ao fruto do seu trabalho. Sê equilibrado no sucesso e na derrota; porque é esta igualdade de temperamento que é o significado do Yoga.”
                                                                                                            Bhagavad Gita

No Bhagavad Gita, Krishna descreve todas as formas de Yoga e apresenta os princípios da filosofia indiana. Guiado por Krishna, Arjuna luta contra seus inimigos e os derrota um a um. Krishna, muitas vezes chamado o Cristo da Índia pela semelhança de fatos da sua vida com a do Cristo, simboliza o nosso Eu Superior e Arjuna representa o ser humano, todos nós, tão complacentes e acostumados com nossos defeitos e vícios. Lutar contra eles é realmente lutar contra uma parte de nós mesmos. Assim vamos adiando, apresentando uma série de motivos e explicações para não iniciar essa guerra. Aceitamos a preguiça e a inércia, o egoísmo, a gula, as nossas vaidades, os julgamentos instantâneos que fazemos sobre os outros, a falta de solidariedade e tantos outros, como velhos conhecidos. Muitos pensam que esses são inerentes aos seres humanos. Ensinaram-nos a acreditar que somos frutos do nosso meio e de tendências genéticas. Mas os sábios, e mesmo pessoas comuns, ultrapassaram esses limites desafiando todas as possibilidades e se tornaram frutos de suas próprias decisões e escolhas conscientes. Esses se tornaram exemplos em suas comunidades.

 Para o yogue, não pode ser estabelecido um  limite no que o ser humano pode ou não alcançar, ou até onde evoluir ainda como ser humano. Ele luta diariamente contra esses velhos inimigos.  A prática regular do Yoga é o que lhe confere disciplina, força interior e perseverança na busca de seu divino objetivo.

Rio Ganges em Rishikesh, 2014, eu e David, meu filho yogue

Esse tem sido o meu caminho na vida. Existem outros  também poderosos, se os percorrermos com o coração fixo no Senhor Supremo e sem apego ao fruto do trabalho, o resultado de suas ações. Esse é um conceito difícil de ser entendido por nós, ocidentais, acostumados exatamente a perseguir esses resultados. Abrir mão deles significa sacralizar cada ato, cada pensamento. Colocá-los em um altar e oferta-los à própria Vida Única, à comunidade, a Deus, sem esperar recompensas ou reconhecimento; porque a vida ou se sacraliza, ou se banaliza.

Arjuna conquistou cada um de seus inimigos e venceu a  batalha, assim como fizeram Jesus, São Francisco de Assis, Buda e outros seres especiais que passaram por essa Terra como seres humanos e superaram todos seus limites como humanos. Como disse Platão: “Quando um homem se eleva, toda humanidade se eleva.”

Por isso: “Se algum dia duvidares de si próprio, se algum dia te sentires sugado pelas sombras, olha no horizonte e verás Arjuna, o príncipe dos homens, montado sobre sua montanha de sombras derrotadas.”

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