Minhas duas faces- 4ª -Um ano antes
Um ano antes
Eu chegava em casa voltando de uma longa e fantástica viagem à Índia com o grupo de Yoga. Quase 30 dias em um país fantástico, guiados por um mestre da Yoga e meditação e, principalmente, um ser humano muito especial, o “guru” do nosso grupo. Fizemos uma peregrinação aos templos siks e budistas do norte da Índia e os nossos dias começavam às 5 horas da manhã, com 2 horas de meditação e aula de Yoga. Portanto, voltei de viagem meio levitando, para rapidamente ser confrontada com algumas duras realidades. Nem imaginava o ano difícil que eu teria pela frente.
Eu chegava em casa voltando de uma longa e fantástica viagem à Índia com o grupo de Yoga. Quase 30 dias em um país fantástico, guiados por um mestre da Yoga e meditação e, principalmente, um ser humano muito especial, o “guru” do nosso grupo. Fizemos uma peregrinação aos templos siks e budistas do norte da Índia e os nossos dias começavam às 5 horas da manhã, com 2 horas de meditação e aula de Yoga. Portanto, voltei de viagem meio levitando, para rapidamente ser confrontada com algumas duras realidades. Nem imaginava o ano difícil que eu teria pela frente.
O que é que tem maior poder de desestabilizar uma mulher que é mãe? Seus filhos, é claro. Para começar, minha filha mais nova havia terminado um noivado, 4 anos de relacionamento. Foi uma conversa difícil:
- “ Foram 4 anos, mãe! Eu também não queria,
mas não vai ter jeito! Eu preciso seguir minha vida! Não quero ficar com essa
sensação de estar marcando passo! Você
entende? ”
-“Mas porque só agora? Vocês ficaram noivos
com festa e alianças, já tinham até escolhido nome dos filhos e a música do
casamento! Pelo amor de Deus! Ele é uma pessoa ótima! ”
-“ Eu sei, mas isso só não basta para mim.
Puxa! Eu também estou decepcionada, queria que tudo tivesse evoluído bem, mas a
gente se afastou, mãe! Mesmo durante todos esses anos, eu ainda fico insegura
com nosso relacionamento e o melhor agora é eu seguir o meu caminho! Antes de
você viajar as coisas já não estavam bem entre a gente. Você percebia que eu
não estava feliz, não é? ”
- “Pensa bem, Ju, você não é mais uma
criança! Ele é uma excelente pessoa, um grande amigo, companheiro seu de
verdade! “
Mas
eu já sabia que a decisão já tinha sido tomada. Geralmente, os pais nessas horas são aquelas pessoas a quem os
filhos simplesmente comunicam os fatos. E a nós, só cabe aceitar. Tudo bem,
relacionamentos acabam, o meu acabou, e de muitas outras pessoas que conheço.
Mas as mães costumam construir na cabeça um futuro para seus filhos, mesmo
inconscientemente. E para mim foi difícil naquele momento ver as coisas
“desandando”. Sem contar que ela estava passando um momento muito difícil
profissionalmente também, que me preocupava muito.
Enquanto isso, minha
filha mais velha também havia tomado suas decisões:
- “Mãe, você sabia que esse era um sonho
meu. Eu quero voltar para o Canadá. E eu consegui a bolsa do doutorado! Uma
cidade pequena, do jeito que a gente quer, vai ser melhor para a Manu. É perto
de Vancouver”.
- “Mas como, Beca! A Manu não tem nem dois
anos, vocês vão embora assim para tão longe e sem previsão de voltar? Que eu saiba o Bernardo nunca quis ir para o Canadá!
”
- “É, mas ele mudou de ideia. As coisas
estão difíceis aqui, parece que por mais que a gente trabalhe e se dedique,
nada acontece, entende? Ele percebeu que a gente pode ter um futuro melhor lá,
e para a Manu mais ainda! A gente quer fazer nossa vida lá, mãe”.
- “ Vocês querem? Talvez tenham razão, com
certeza é um pais do primeiro mundo, para a Manu vai ser uma grande
oportunidade, e para vocês também, eu acho.
Mas eu vou ficar sem ela perto de mim! ”
Mais
do que os filhos até, os netos por perto são responsáveis por uns 60% do pacote
de felicidade de uma avó. É deles que vem a alegria mais pura e o riso mais
solto. Como abrir mão dessa alegria no seu dia a dia? O que pode ajudar nessas
horas?
Trabalho,
muito trabalho. Grande parte da minha vida foi baseada nisso. E assim foi. Eu já
tinha deixado o confortável consultório onde fazia ultrassom e retornado para a
dureza da Clínica Médica há alguns anos. Essa foi uma mudança da água para o vinho. Uma estimulante mudança que me levou de volta aos estudos que eu amava. Mas no ano anterior a paralisia eu me encontrava em um ritmo meio louco de trabalho, dando vários plantões por mês no hospital e na
UPA, os serviços de urgência do SUS.
Enquanto
isso Rebeca partiu para o Canadá com o marido e minha neta. Juliana separou-se
definitivamente do noivo e naquele ano dedicou-se a estudar. Por fim, depois
de meses angustiantes sem emprego, voltou a clinicar na sua área, veterinária.
Tudo havia mudado, como sempre muda, e eu estava confiante de que coisas boas
viriam pela frente. Mas havia sempre o vazio deixado pela minha neta e a
preocupação com o futuro das minhas filhas, que às vezes não me deixava dormir
direito. Mesmo assim continuei a me preparar para realizar o meu maior sonho: me juntar aos Médicos sem Fronteiras. Fiz minha primeira entrevista por
telefone com o escritório do MSF no Rio exatamente um mês antes da paralisia. Ali
surgiu outro conflito.
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