Minhas duas faces- 8ª- A doença como caminho

                                           
  8ª parte
A doença como caminho
Aprendi que doenças, assim como outros desafios da vida, não são inimigos que precisamos combater e lutar contra, heroicamente, como se fosse uma guerra. Elas incomodam, fazem com que a gente se sinta vulnerável, fazem com que a gente se pergunte o que é o mais importante na nossa vida. Elas nos colocam de volta ao caminho para nós mesmos.
Eu apresentei os primeiros sintomas da paralisia em setembro de 2015.  Comecei a escrever essa crônica há quase um ano, mas queria postar no blog quando meu rosto já estivesse 100% recuperado. Isso não aconteceu, e agora sei que, como no sonho que tive duas semanas antes, as sequelas não vão desaparecer totalmente. Meu rosto está melhor, quase não dá para perceber sem falar ou sorrir.  Coisas que não dá para viver sem, não é? Por isso continuo sorrindo, vivendo, curtindo todas as coisas boas que a vida me traz, trabalhando, curtindo meus netos, as viagens e realizando meus sonhos.
Rebeca está morando no Canadá e eu tenho ido com frequência, passo meses com minha neta. Juliana casa-se esse ano com um rapaz responsável e com quem tem muitas coisas em comum. Meu filho David mora em Curitiba, muito feliz com seus filhos gêmeos, meus lindos netos.  Vou vê-los com frequência.
Continuo trabalhando e dando plantões, mas num ritmo mais tranquilo que naquela época.  E quando fico meses sem trabalhar, sinto falta do contato com os pacientes, do ambiente do hospital e da sala de emergência.
Fiz a última etapa do processo de seleção do MSF no escritório do Rio de Janeiro na semana passada e fui aceita. Já estou me preparando para minha primeira missão em breve.  Para mim foi a sensação de ter chegado ao pico de uma montanha após uma longa e difícil subida, e olhar para o lado e ver outra montanha mais alta que ainda precisa ser escalada.  Importantes passos que damos na vida geralmente não são de um dia para o outro, muitas vezes nós vamos e voltamos até finalmente partirmos para uma definição. É o que se chama de amadurecer uma ideia. E muitas vezes aparecem empecilhos pela frente. Para alguns esses empecilhos podem significar “...um sinal de que não devo fazer isso...” Mas para outros são dificuldades a serem superadas no rumo do seu objetivo. Dificuldades que evidenciam o valor da sua meta. Portanto, a paralisia atrasou por alguns meses meu processo de seleção no MSF, mas passado o susto, retomei minha trilha.

Finalmente, e não menos importante, me senti pronta para escrever e compartilhar minhas experiências, com todos os riscos que isso implica. Um projeto que está na minha cabeça há alguns anos e que só agora começa a se concretizar. Muito provavelmente outras crônicas virão.
Como me disse uma querida amiga: “a paralisia não paralisou sua vida, sua fé e sua coragem, mas trouxe movimento aos seus talentos e missão de vida”.  Portanto, para quem se sente de alguma forma paralisado no seu caminho,  posso dizer que assim como foi para mim, pode ser para você também, querido leitor.
FIM


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